segunda-feira, 14 de dezembro de 2009

O Governo de Salomão



Para compreender as formas pelas quais o reino de Israel se expande e se consolida durante o reinado de Salomão (c.970 - 930 a.C.)2 faz-se necessário deixar de lado a visão que se tem desse rei como um homem bíblico e passar a vê-lo como um grande estadista.

Salomão assume o lugar de seu pai, o rei Davi e vai proceder a organização administrativa do reino. Davi, enquanto governou, esboçou as bases organizacionais, criou o exército, estabeleceu o regime administrativo e firmou a unidade do povo com a capital Jerusalém, centro da vida civil, política e religiosa de Israel. Durante o tempo que governou, a paz no reino foi um tanto quanto aparente, bastava um pretexto para que se manifestassem as diferenças entre Israel e Judá e que os inimigos externos se manifestassem. Seu reinado foi um período marcado por um grande número de guerras. Salomão, quando assume o governo, ao invés de guerrear, vai diplomaticamente criar alianças e manter a paz, bem como finalizar algumas obras civis iniciadas por seu pai. Moderniza o exército com carros e armas, vai fortificar as cidades e criar uma linha de praças fortes; implanta uma via comercial que ia do Egito até a Síria. Constrói as fortalezas de Baalat e Pamar que têm a finalidade de proteger as rotas de metais que são retirados das minas de Asiongaber através do porto de Aqabar.

Com a velhice de Davi, inicia-se a cobiça pelo trono. Adonias, filho mais velho, considerar-se o legítimo herdeiro, porém uma promessa feita por Deus a Davi (I Crônicas 22: 7 a 10) dizia que seu sucessor seria Salomão. Adonias, mesmo antes da morte de Davi, passa a comportar-se como o novo rei. Faz vários sacrifícios junto à pedra de Zoelet e prepara um grande banquete para o qual convida todos os homens importantes de Judá que serviam o rei e seus filhos. Adonias não convida Salomão e as pessoas a ele ligadas, o profeta Natã e Banaías. Este fato demonstra que provavelmente Adonias tinha conhecimento da promessa de Deus a Davi. Ao saber das intenções de Adonias em usurpar o trono, o profeta Natã chama Betsabéia - mãe de Salomão - e pede que esta comunique o que se passa ao rei. Quando Davi toma conhecimento da situação e vê que sua vontade está sendo desrespeitada, chama o profeta Natã e o sacerdote Sadoc e ordena que levem Salomão até a cidade de Gion. "Lá o sacerdote Sadoc e o profeta Natã o ungirão rei de Israel e vós tocareis a trombeta e gritareis: 'Viva o rei Salomão!' ". Estes homens cumprem as ordens de Davi e Salomão é ungido rei de Israel. Como nas monarquias orientais costumava-se garantir o trono eliminando os possíveis pretendentes à ele, a situação de Adonias frente a Salomão torna-se crítica. Por isso Adonias jura fidelidade a Salomão e promete que não atentaria contra a vida dele e vice-versa. Com a morte de Davi (c.970 a.C.) Salomão consolida-se como novo rei. Altar de pontas da época de Salomão encontrado em Meggido.

Apesar do acordo, Adonias não satisfeito com a situação, por ainda achar-se o legítimo sucessor do trono, trama contra Salomão. Adonias pede para Betsabéia que interceda a favor dele, concedendo-lhe como esposa Abisag, a sunamita, última esposa do rei Davi. Pelo direito oriental, quando ocorre a morte de um rei, sua esposa viúva passa para seu sucessor, assim Adonias desposando Abisag pretendia contestar a legitimidade de Salomão. Ao perceber as intenções no pedido feito por Adonias, Salomão ordena a Banaías que matasse os conspiradores. Assim, Adonias, Semei, Joab e Abiatar são executados (3). Com isso Salomão assegura e consolida sua presença no poder, designando pessoas de sua confiança para os cargos antes ocupados pelos conspiradores.

Para garantir a paz e expandir o reino, Salomão passa a usar, ao invés da guerra, a diplomacia e faz várias alianças com os países vizinhos. Uma dessas alianças ocorre provavelmente através do casamento com uma das filhas do faraó egípcio Psusene II (XXI dinastia de Tanis) (4). Nesta aliança Salomão ganhou como dote, a cidade de Guezer. O casamento era uma prática eficaz de política tanto externa como interna. Assim, o rei tomava suas mulheres das famílias mais poderosas do reino e das cortes vizinhas. Esta estratégia lucrativa politicamente trará no futuro problemas de ordem religiosa ao rei e a seu governo.

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